"Essa dança antiga é sagrada e seu simbolismo aviva a serpente, moradora dos espaços subterrâneos da psique. Seu encantamento é poderoso, sua presença é ancestral, um dos símbolos mais antigos da força criadora."
Lucy Penna
O ventre tem sido arquetipicamente considerado como o jarro sagrado, o caldeirão alquímico no qual se origina a nova vida. Todas as civilizações agrícolas tinham seus rituais de fertilidade e eram, portanto, dependentes dos ciclos naturais, das luas, das chuvas e dos ventos. Da mesma forma as mulheres, em seu ciclo menstrual, estão submetidas a natureza e, portanto, aptas a entendê-la e a revivê-la em seus corpos, como de fato o fazem todos os meses. Toda mulher traz em si o dom da criação, da alquimia através da energia do ventre. Quando conectada a essa fonte de luz e criação que é o próprio cálice sagrado, a mulher pode mover essa energia transformando e recriando seu próprio mundo.
É necessário reconhecer que a Dança do Ventre possa ter iniciado em vários lugares e de várias formas ao mesmo tempo. Se examinarmos as diferentes culturas no mundo encontraremos os movimentos sinuosos dos quadris, por exemplo, entre os ciganos, havaianos e africanos. A origem da Dança do Ventre Egípcia remonta a um tempo ancestral onde era chamada de Dança do Leste, onde as mulheres, Sacerdotisas da Deusa, executavam movimentos de ondulação e contração do ventre invocando bênçãos de fertilidade e fortalecimento do útero para dar a luz aos bebês e pedir fartura sobre a terra.
Tal qual é conhecida atualmente, é certo que a Dança do Ventre egípcia chegou até o Ocidente cheia de influências e um tanto modificada pelos caminhos que percorreu. Difícil dizer até que ponto os ritmos, os instrumentos e os movimentos foram alterados, mas sabe-se que os árabes e suas inúmeras conquistas de reinos orientais foram os responsáveis pela sua difusão, modificada em suas origens e transformada em festa, em alegria, o que também não deixa de ser uma celebração da vida.